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Rebelde com Causa: Como Thomas Paine Moldou o Pensamento Moderno

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Senso Comum, escrito pelo britânico Thomas Paine (1737 – 1809) e publicado em janeiro de 1776, foi um dos mais famosos e bem-sucedidos panfletos políticos da história. A obra consiste em um libelo repleto de argumentos poderosos, persuasivos e veementes contra o sistema monárquico e favoráveis à independência da América.

Os seus argumentos, oferecidos com o propósito de convencer o leitor da importância de assumir a sua parcela de responsabilidade e aceitar a oportunidade de libertar-se do jugo da Grã-Bretanha, são de naturezas diversas e partem de diferentes pressupostos.

O primeiro deles, presente nas linhas iniciais da obra, apresenta uma distinção precisa e elucidativa entre sociedade e governo. Enquanto a primeira seria filha de nossas virtudes e de nosso senso de camaradagem, o segundo seria filho das necessidades que os nossos vícios produzem. Um governo, mesmo em seu melhor estado, nada seria além de um mal necessário; ao passo que, em seu pior estado, seria absolutamente intolerável. “Visto que, quando sofremos ou somos expostos por um governo a desgostos que acreditávamos que conheceríamos somente em um país sem governo, nossa calamidade é intensificada pela assimilação do fato de que fornecemos os meios através dos quais sofremos”, declara, de modo enfático, o autor.

A América se encontraria, para Paine, nessa situação. O domínio britânico, considerado ilegítimo pelo autor, tornara-se insustentável. “Nada poderá resolver as nossas questões tão expeditamente quanto uma declaração aberta e determinada de independência”, diz. “Suponhamos que fizéssemos as pazes – o que ocorreria? Eu respondo, a mais completa ruína do continente americano”.

Nas cerca de sessenta páginas com que contam o panfleto, Paine destrói com sagacidade todos os argumentos que poderiam sustentar uma reconciliação com a Inglaterra.

Embora o seu principal alvo consista na monarquia inglesa, Paine também apresenta os mais convincentes argumentos contrários à monarquia de modo geral, especialmente as monarquias que funcionam de acordo com a sucessão hereditária. Diz ele: “Aos horrores da monarquia, acrescentamos o mal da sucessão hereditária; e, enquanto a primeira nos é degradante e humilhante, a segunda, considerada uma questão de direito, é ofensiva”.

Partindo da suposição de que todos os homens são originalmente iguais, Paine (que, em seus tempos de jornalista, foi um grande crítico do sistema escravagista) alega que não é razoável que alguém clame, por nascimento, o direito de colocar a sua própria família em perpétua preferência em detrimento de todos os outros para sempre. “Embora ele possa merecer algum grau comedido de admiração por parte de seus contemporâneos, os seus descendentes podem não ser dignos de herdá-lo”, afirma. Não sendo a virtude perpétua, e muito menos hereditária, faz-se necessário que a sucessão hereditária seja extinta, pois a própria Inglaterra, desde a conquista normanda “conheceu alguns monarcas bons, mas sofreu sob o reinado de um número muito maior de reis maus e despreparados”.

No final de seu texto, Paine procura passar ao leitor a convicção de que está em seu poder recomeçar a história do mundo. Sua conclusão é irresistível:

O sol nunca brilhou sobre uma causa de maior valor. Não se trata de um assunto que concerne a uma cidade, a um país, a uma província ou a um reino – mas sim a um continente. Esta não é uma questão de um dia, de um ano, ou de uma era; a posteridade está de fato envolvida nesta contenda, e será mais ou menos afetada, mesmo até o final dos tempos, pelo que ocorre nesse momento“.

Senso Comum obteve imenso sucesso. Segundo Stephanie Schwarcz, a obra foi impressa vinte e cinco vezes apenas no primeiro ano, tendo vendido mais de cento e cinquenta mil exemplares nas primeiras semanas. Cópias do texto foram enviadas pelos representantes do Congresso às suas colônias para angariar o apoio dos constituintes. O próprio George Washington, futuro presidente dos Estados Unidos, escreveu numa carta a Joseph Read, seu secretário: “Considerando as epístolas que tenho recebido da Virgínia, ocorre-me que Senso Comum está trabalhando intensamente de modo a alterar a mentalidade de todos os homens desta terra”.

Em suma, podemos citar as palavras do jornalista Harry Whittaker: “Jamais um escritor foi capaz de causar um impacto tão dramático e imediato nos eventos político de sua era. Nenhum homem, antes ou depois, provou de maneira tão efetiva que as palavras também são armas, e que a pena é mais poderosa do que a espada”.

Os méritos e a importância de Paine e de sua obra são inegáveis. Concluo aqui que, além de ter servido de estimulante para a Revolução Americana, Senso Comum possui a rara, inestimável qualidade de ser uma das obras capazes de elucidar os eventos, pensamentos e ideais que conduziram a história do mundo ocidental.

Camila Nogueira Nardelli

Leitora ávida, aficcionada por chai latte e por gatos, a socióloga Camila escreve sobre desenvolvimento pessoal aqui no El Hombre.

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