Os Beatles acabou de perder mais um de seus membros nessa terça-feira. Paul? Ringo? Não, George Martin.
Conhecido como o quinto Beatle, ele foi o produtor do grupo em quase todos os trabalhos (com exceção do álbum “Let It Be”) e teve importância fundamental em toda a obra da banda. Os Beatles, entre tantas outras coisas, são reconhecidos pelo pioneirismo de suas experimentações – e não tem como falar disso sem mencionar Martin.
Tudo bem, a primeira fase rock’n’roll dos Fab Four é incrível e Martin estava lá junto com eles. Mas, em termos musicais, não dá para se comparar com o que virira depois, a partir de 1965. Até mesmo o produtor no início não achava os quatro lá grande coisa musicalmente. Ele aceitou trabalhar com os garotos mais por conta de suas personalidades do que de qualquer outra coisa.
Contudo, mesmo sem grandes complexidades musicais, foi essa primeira fase que fez os caras alçarem voos nunca vistos antes na história da música, com seu ápice na famosa turnê norte-americana de 1964, aquela em que se vê as garotas em histeria, desmaiando em aglomerações sem fim.
Mas os trabalhos que impressionaram o mundo em aspectos musicais surgiriam depois do lançamento de Rubber Soul, sexto álbum de estúdio da banda. A partir desse disco as músicas do grupo passaram a se tornar mais complexas — sofisticadas, como gostam de dizer.
E o dedo de Martin foi essencial nessa sofisticação toda!
Se os garotos de Liverpool não tinham muito conhecimento musical teorico (John e Paul chegavam a empreender pequenas viagens para aprender um mísero acorde), George Martin era arranjador, compositor e estudioso de música erudita.
As peças orquestrais foram quase todas influenciadas por seu talento genial. Já imaginou “Yesterday” sem o quarteto de cordas? Pois é o que aconteceria se dependesse de Paul, que acabou sendo convencido pelo produtor de que o melhor era que as cordas entrassem.
E o arranjo de “Elanor Rigby”? Obra de Paul? Não, de Martin! Aquela cordas espetaculares nasceram tudo em sua cabeça, com inspiração na música de Psycho.
George experimentava na mesa de som: acelerava gravações, distorcia os timbres, introduzia sons nada convencionais nas músicas, cortava e colava as fitas (naquela época era tudo na mão, nada digital) e foi colocando o seu DNA no trabalho do grupo pop mais famoso de todos os tempos.
Paul certa vez disse: “George Martin foi um tanto experimental para o que ele era: um adulto”.
Para ilustrar um pouco da genialidade dele, vamos falar de “In My Life”. Você deve se lembar de um solo que aparece no meio da música. Mas o que é aquilo, um cravo? Não, um piano mesmo. Martin escreveu a partitura só que não conseguiu executar na velocidade certa. Então tocou mais devagar e acelerou para encaixar na gravação. O resultado é essa maravilha que ouvimos.
O produtor não apenas compunha e arranjava muitas músicas, como por vezes executava, já que era também pianista.
As obras que tiveram influência mais do que decisiva do produtor são incontáveis e poderia alongar esse texto para ser lido durante um mês inteiro – mas essa não é a proposta.
Gostaria, apenas, de, como beatlemaníaco, deixar aqui meu reconhecimento à justiça de nomear Geroge Martin como o quinto Beatle. Quando eu ouço os arranjos sensíveis e complexos das músicas do grupo me dá vontde de chorar.
A utilização das potencialidades eruditas num contexto pop é mérito desse homem, que revolucionou o universo musical com seu talento.
Seu trabalho foi para muito além da parceria com os Beatles, claro. Ele ainda colaborou nas obras de artisas como Elton John, Celine Dion, Jeff Beck, America e por aí vai.
RIP, George Martin — porque se tem um cara que merece descansar em paz esse cara é você.
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