Se seu time está perdendo de 4 x 0 aos 40 do segundo tempo vocẽ certamente, sem esperança alguma, está afundado no sofá sem palavras, esperando o jogo acabar para permanecer por ali mesmo sofrendo o gosto amargo de uma goleada doída.
É simplesmente impossível alguém ter esperança de que aconteça uma virada (empate que seja) nessas circunstâncias.
Mas, meu caro, sim, é possível. E Robert Lewandowski provou isso ontem.
O Bayern de Munique jogava contra o forte Wolfsburg (vice campeão alemão, atual campeão da Copa da Alemanha, disputando a Champions League) e perdia o jogo por 1 x 0 ao final do primeiro tempo. Eis que Pepe Guardiola opta por colocar o polonês, que estava no banco, em campo.
“Um ótimo atacante, talvez pode nos ajudar de alguma forma”, ele deve ter pensado.
E, então, aos cinco minutos da segunda etapa a história começou a acontecer. Exatamente na marca dos 5’40” a bola beijava a rede do Wolfsburg após sair dos pés de Lewandowski. O primeiro gol. Depois disso o atacante marcaria mais 4, sendo o último anotado precisamente aos 14’38” do segundo tempo.
Ou seja, em menos de 9 minutos o polonês fez 5 gols e entrou para a história do futebol. Esse é um feito ridiculamente absurdo. A reação do técnico do Bayern expressa bem o que o mundo sentiu ontem. Saca só:
Ao final da partida ele disse: “Não acho que verei algo parecido com isso novamente”. E eu, Thiago, particularmente, não me lembro de nada parecido em tudo que já vi no esporte. Nem Messi e Cristiano Ronaldo, que vivem fazendo bizarrices, hat-tricks a rodo, conseguiram algo que se compare.
Para você ter uma ideia de como estou estupefato, tenho como exemplo de fato surpreendente no futebol a final da Mercosul de 2000. Nesse jogo o Palmeiras terminou o primeiro tempo vencendo o Vasco por 3 x 0. Só que na etapa final o time carioca virou o jogo e foi campeão em pleno Palestra Itália por 4 x 3.
Impressionante, não? Mas considere que foram 4 gols anotados em 34 minutos (dois de pênalti) divididos em dois jogadores (Romário três e Juninho Paulista um). É um feito bem menos grandioso – e coletivo.
Quanto a feitos individuais, há alguns registros impressionantes na história.
Assisti agora o narrador João Guilherme comentando no Fox Sports sobre um jogo do Southhampton contra o Aston Villa nesse ano em que o atacante Mané fez 3 gols em 3 minutos (veja aqui).
Incrível também – mas não dá para comparar.
Muitos estão comentando sobre os gols de Dadá Maravilha em 1976 quando jogava pelo Sport: o atacante fez 10 em uma única partida.
Realmente esse é um acontecimento incrível. Mas precisamos considerar as particularidades: o jogo era contra o fraquíssimo Santo Amaro e os gols foram distribuídos em 60 minutos (4 em 7 minutos).
Olha o que Dadá disse numa participação no Roda Viva em 1987:
O nosso treinador era o Mario Travaglini. O Santo Amaro tinha alguns jogadores que eu conhecia. Eles trabalhavam o dia todo para jogar à noite. E eles comiam um sanduíche para jogar. Eu cheguei, o Mario Travaglini, cheio de tática, faz isso, faz aquilo, eu digo: ‘Seu Mario, por favor, como é que um time que trabalha o dia todo e come um sanduíche pode jogar contra a gente?’ Marcamos sobre pressão, deu câimbra neles, aí eu fiz dez gols. Porque os caras ficaram com fome, cansados, tadinhos.
Compreende? Era tipo várzea. Não quero desmerecer de forma alguma a grande marca. É muito incrível. Mas…
Além dele, Pelé também já alcançou feito semelhante, com os 8 gols contra o Botafogo-SP em 64. Contudo, time pequeno nessa época era saco de pancada. Goleadas eram bem comuns.
Edmundo em 97, contra o União São João de Araras, marcou 6 gols – 4 em 11 minutos. O animal era foda em campo – só que mais uma vez chamo a atenção para a qualidade do adversário.
E ainda temos a marca histórica de Archie Thompson, atacante australiano que marcou 13 gols contra a Samoa Americana nas eliminatórias da Copa de 2002 (4 em 9 minutos). O jogo terminou 31 x 0 para a Austrália. Essa é a vitória mais elástica numa partida internacional na história e Thompson é o jogador que mais anotou gols em uma única partida.
Certamente há diversos outros jogadores que anotaram vários gols no decorrer de um jogo. Se voltarmos na história, quando o futebol ainda era um esporte amador, encontraremos vários feitos desse gênero. Por isso é importante contextualizar para medir a grandeza da realização.
O fato de Lewandowski ter entrado no segundo tempo também contribui muito para esse ser, na minha opinião, o maior feito de um jogador em campo na história do futebol. Ao anotar o quinto gol, o atacante somava apenas 16 minutos no gramado. Ele foi o primeiro jogador substituto de todos os tempos a marcar cinco gols numa partida.
Sem mencionar que o último foi uma verdadeira pintura – um voleio maravilhoso na entrada da área diretamente no ângulo (veja aqui). Suponhamos que Lewandowski não tivesse anotado os outros 4 tentos, apenas esse – mesmo assim ele seria manchete nas publicações mundiais. É que o fato de marcar 5 gols em 9 minutos não deu muito espaço para falar sobre a beleza plástica desse gol. Mas, meu Deus, que jogada!
Nesses 9 minutos o atacante ainda conseguiu colocar uma bola na trave (num dos lances de gol) e no restante da partida ainda teve claras oportunidades de afundar a rede mais duas vezes. Numa delas a zaga salvou na linha.
Mas, quer saber, foi melhor os outros gols não terem saído, assim podemos focar toda a atenção nesse fato surreal: 5 gols em 9 minutos.
Ontem vimos história, senhores! E a maior feita por um único jogador. Não acha?
APENAS OS GOLS
OS 9 MINUTOS