Há diretores em Hollywood que são famosos por seus filmes fortes, impactantes, ou de qualidade inquestionável. Há diretores que são famosos por seu estilo próprio e característico. Há diretores famosos por suas megaproduções. Há diretores famosos por sua personalidade. E há Robert Rodriguez, famoso por, bem, ser Robert Rodriguez.
Ele é o cara que filmou O Mariachi (El Mariachi, 1992), produção falada em espanhol, custando 7 mil dólares, que acabou tendo direitos de distribuição comprados pela Columbia Pictures, transformando-se em um sucesso. Foi já em seu primeiro longa que iniciou sua filosofia de “one-man film crew” (equipe de filmagem de um homem só).
Além de ser o produtor, roteirista e montador da maioria das produções que dirige, também atuou como compositor musical, diretor de fotografia, operador de câmera, operador de steadicam, supervisor de efeitos visuais e/ou editor de som em vários deles.
Seu jeito de fazer filmes, sempre procurando as soluções mais baratas para os problemas, transformou-se em sua principal marca. Foram criadas expressões como Mariachi-style e Robert Rodriguez list e o cineasta fez uma série de vídeos chamados “Ten Minute Film School” (escola de cinema de dez minutos), onde conta, por meio de imagens de seus filmes, seus segredos para fazê-los de forma barata.
Outro lado de sua fama é sua parceria com Quentin Tarantino. Primeiro, em Pulp Fiction (1994), apesar de não ser creditado, dirigiu as cenas em que Tarantino atuava. No ano seguinte, os dois dirigiram segmentos do filme Grande Hotel (Four Rooms, 1995). Já Um Drinque no Inferno (From Dusk till Dawn, 1996) foi escrito por Tarantino – que também atuou – e dirigido e montado por Rodriguez.
Em 2004, sua banda Chingon teve uma música nos créditos finais de Kill Bill Volume 2. Em Sin City (2005) foi a vez de Tarantino dirigir uma cena no filme de Rodriguez. E em 2007, dividiram o projeto Grindhouse, com Quentin comandando Death Proof e Robert comandando Planeta Terror.
Mais uma marca dele: transitar por diferentes gêneros. Do terror alienígena adolescente Prova Final (The Faculty, 1998) às aventuras pré-adolescentes de Pequenos Espiões (Spy Kids, 2001). Da ação Era Uma Vez no México (Once Upon a Time in Mexico, 2003), fechando a Trilogia Mariachi, à homenagem a filmes de zumbi, Planeta Terror. Todos sendo filmes eficientes, no mínimo.
Mas foi com Sin City que Rodriguez mostrou todo seu talento. A adaptação fiel das graphic novels de Frank Miller – que co-dirigiu a produção – levou-o a outro patamar. Seu divertido neo-noir reuniu um elenco de peso para contar quatro histórias passadas na mesma violenta cidade. Esteticamente ousada, a obra foi muito elogiada e virou um grande sucesso de público. A impressão é que nenhum outro diretor teria levado tão bem a história aos cinemas.
Nove anos se passaram até a chegada do aguardado segundo filme Sin City 2: A Dama Fatal (Sin City: A Dame to Kill For), contando mais quatro histórias passadas na sombria cidade criada por Miller, sendo duas escritas exclusivamente para a adaptação.
Vários personagens voltam a aparecer aqui – embora a maioria seja interpretada pelos mesmos atores, alguns foram substituídos, por diversos motivos. Johnny (Joseph Gordon-Levitt) é um dos protagonistas, juntando-se aos já conhecidos Marv (Mickey Rourke), Dwight (agora Josh Brolin) e Nancy (Jessica Alba). Gail (Rosario Dawson), Hartigan (Bruce Willis), Roark (Powers Boothe), Miho (agora Jamie Chung) e Manute (agora Dennis Haysbert) voltam a aparecer com bastante destaque. E a maior novidade fica por conta de Eva Green, como a dama fatal do título.
O filme pode não causar o impacto que foi para os fãs quando assistiram ao Sin City de 2005 pela primeira vez, mas todas as qualidades da produção estão lá: o forte preto-e-branco, as cores marcantes, a violência, a trilha sonora, as atuações seguras, os personagens com suas morais próprias, os desfechos imprevisíveis e as narrações poéticas, quase bregas, por vezes.
O único demérito que eu destacaria é que alguns personagens parecem ainda mais invencíveis, mas é algo absolutamente perdoável dentro do universo criado.
Esse segundo filme – que é em parte uma continuação, em parte um prequel – ainda ganha um atrativo extra para os fãs: é divertido ficar vendo como alguns daqueles personagens que conhecemos nove anos atrás se relacionavam antes.
Talvez o público não aprecie tanto A Dama Fatal. Mas para mim, Rodriguez e Miller poderiam continuar filmando histórias passadas em Basin City durante muitos anos mais. Na pior das hipóteses, é uma diversão bastante diferente de tudo o que Hollywood produz atualmente.
Mas, ao mesmo tempo, também é sempre bom ver os outros projetos que Robert Rodriguez pode reservar para o futuro. Sempre vem algo, no mínimo, eficiente e divertido. Pessoalmente, me passa a impressão de que ele seja um dos cineastas que mais divertem-se fazendo suas obras. E isso reflete-se nos filmes. Descompromissado com qualquer padrão que tenha que seguir em sua carreira, Rodriguez pode acabar fazendo qualquer coisa a qualquer momento. E nos surpreender. Mais uma vez.
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