Noite passada aconteceu de novo. Saí com um homem que conheci recentemente. Amigo de amigos. Marcamos uma festa, passamos a noite juntos e a coisa foi tão intensa, que ele acabou dormindo na minha cama. O sexo foi sensacional, a não ser por um detalhe.
Foi a primeira vez que transamos. Mesmo assim, ele tentou me penetrar sem camisinha. Não uma ou duas, várias vezes. Nenhuma novidade até aqui. Sempre me surpreendo de ver homens tão inteligentes e bem sucedidos cometendo esse mesmo descaso. Porém acontece com tanta frequência que já até me acostumei a lidar com a situação.
Em geral, não deixo nem encostar. Paro o que está acontecendo e digo que sem camisinha não continuo. Simples assim. É o tipo da atitude que me faz perder todo o tesão no momento. O prazer acaba, começam as preocupações. Afinal, estou me pondo em risco com alguém que não respeita nem a si próprio.
Acabei me descuidando dessa última vez. Deixei-me levar pelo prazer do momento. Permiti que roçasse um pouco nas coxas e, quando percebi, seu pau já estava entrado em mim – sem qualquer proteção. Os poucos segundos de descuido foram o suficiente para a neura tomar conta. Broxei. Não estraguei o momento por causa disso, mas já comecei a pensar que seria preferível evitar novas oportunidades ao lado dele.
O que ganhamos com isso? Nada. Apenas perdemos a oportunidade de curtir tranquilamente o momento que deveria ser tão delicioso.
Sexo não é brincadeira
O descaso não é privilégio dos homens. Uma pesquisa da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) divulgada em março de 2014 revelou que 38% das jovens brasileiras quase nunca usam camisinha em suas relações. O percentual cai para pouco menos de 29% entre os garotos da mesma idade. Mesmo assim, é um índice altíssimo que tem efeitos irreversíveis: 32% das mulheres de até 20 anos já engravidaram ao menos uma vez.
A desculpa dada pelos jovens para não se preocuparem com doenças é que fazem sexo com conhecidos. Como se o fato de conhecer a pessoa fosse o suficiente para saber tudo sobre o estado de saúde dela. Muitas são as DSTs e elas não param de se multiplicar. Algumas, como HPV, não exibem qualquer sintoma. Vai arriscar?
E por mais que as garotas não estejam se cuidando direito, continua sendo uma obrigação masculina vestir o preservativo. Sabe-se que a camisinha feminina é menos segura e mais incômoda. Por isso, o melhor método para garantir o sexo seguro segue sendo a proteção de látex. E ninguém pode obrigar você a colocá-la, por mais que seja importante que as mulheres fechem as pernas quando estiverem diante de um pau desprotegido.
Quer dizer que transar sem preservativo é errado? Ora, se dispensar a camisinha fosse crime, ninguém teria filhos. Mas, da mesma forma que escolhemos pessoas de extrema confiança para ter filhos, é melhor fazer isso com alguém que você possa confiar de olhos fechados. Com quem você já tem um relacionamento estável há pelo menos alguns meses e de quem possa pedir todos os exames. E, mesmo assim, não dá para descuidar da própria saúde, manter as idas ao médico e conversar a respeito com seu parceiro com certa frequência.
Quero ver chegar o dia em que os parceiros irão deixar de se decepcionar na cama com tamanha displicência. Afinal, não vale a pena. Sexo sem camisinha não é mais gostoso que sexo seguro e, portanto, sem neuras. Broxar por causa de uma camisinha é menos grave que fazer a parceira perder o tesão por dispensá-la, com certeza.