InícioEntretenimentoFilmes & SériesSe você só puder assistir uma série este ano, que seja essa

Se você só puder assistir uma série este ano, que seja essa

Uma típica loira wasp novaiorquina que vai parar num presídio com mulheres feias, sujas e malvadas, lidando com as expectativas do noivo, um bom rapaz judeu aspirante a escritor, ligeiramente picareta, e ainda apaixonada pela ex-amante traficante.

Se você tiver de assistir só uma série este ano — e ver treze episódios de uma vez em um fim de semana –, que seja Orange is the New Black.

Inteligente, original, com drama e comédia nas doses corretas, excelentes atuações e erotismo moderado, pero cumplidor, o seriado estreia sua segunda temporada. A primeira foi o maior sucesso da Netflix.

A criadora é Jenji Kohan, conhecida por “Weeds”, sobre a dona de casa de subúrbio que, viúva e falida aos quarenta e poucos, passa a comercializar maconha para sustentar a família.

Jenji se baseou no livro de memórias de Piper Kerman (o sobrenome virou Chapman na adaptação). Piper tinha uma vida relativamente em conformidade com o que seus pais esperavam, até conhecer Alex, mais elegante, mais bem sucedida, sofisticada, lésbica e traficante de drogas. Vira “mula” de Alex.

A polícia descobre o esquema e Piper vai em cana. Nós acompanhamos Piper na prisão, onde encontra um mundo novo em que negras, latinas, branquelas, orientais, religiosas e rappers vivem em grupos que se toleram, na melhor das hipóteses, e se matam, na pior. Consegue ser aceita por todas. Por causa disso, o diretor da penitenciária a usa como espiã, até perceber que ela o engana para obter vantagens.

Sim, é um retrato do sistema penal americano, mas passa longe do enfadonho, do denuncismo ou da tragédia. Pelo contrário, OITNB é bem humorada e terna.

O desfile de personagens, cujas trajetórias se revelam em flashbacks, é incrível. Há a chef de cozinha durona, uma imigrante russa com um passado malcheiroso como arenque; um transexual que se separou da esposa e tem um relacionamento complicado com o filho; uma viciada; uma freira; uma fanática evangélica de dentes podres. Etc.

Piper vive em conflito com sua bissexualidade. Ela se divide entre o noivo Larry Bloom (Jason Biggs, de “American Pie”) e Alex (Laura Prepon, de “That ’70s Show”). Quando as coisas parecem entrar nos trilhos, é arrastada pelo desejo por Alex. Manipula e é manipulada por ambos.

OITNB é um triunfo para a Netflix, que apostou num tema ousado, controvertido e quase uma receita para o fracasso. “Piper foi meu cavalo de Troia”, disse Jenji Kohan. “Você não chega numa rede de TV e vende um programa fascinante sobre negras, velhas e criminosas. Mas se tiver uma garota branca, um peixe fora d’água, e a colocar nesse aquário, você pode expandir seu universo e contar todas as outras histórias”.

É mais uma razão para você se manter longe da televisão aberta, ao menos enquanto a Copa não começa.

Kiko Nogueira
Kiko Nogueira
Kiko Nogueira é editor do Diário do Centro do Mundo. Ele foi fundador e diretor de redação da Revista Alfa; editor da Veja São Paulo; diretor de redação da Viagem e Turismo e do Guia Quatro Rodas.