E então revejo Brilho Eterno de uma Mente sem Lembranças.
A história é assim: o personagem interpretado por Jim Carrey, Joel, após um final de relacionamento doloroso, decide apagar a ex-namorada Clementine (Kate Winslet) de sua memória. Sim, apagar. Literalmente. Tem uma empresa no filme que faz isso.
Acontece que, no meio do processo, ele arrepende-se da decisão. E a história discorre principalmente na mente de Joel. Ele está dormindo na cama, com a máquina que apaga as memórias ligadas à sua cabeça. E, dentro do sonho, tenta escapar do processo. Paro por aqui, para não estragar o final do filme para quem ainda não o viu.
Se essa empresa existisse de verdade, não tenho dúvidas de que eles fariam muito dinheiro. O que não falta no mundo é gente louca para esquecer um passado amoroso e doloroso.
Mas será que vale a pena fazer isso?
Acho difícil. E não vou nem entrar no mérito de que os relacionamentos nos moldam, e que logo perderíamos um pedaço grande de nossa essência e personalidade. Para mim, o motivo principal é outro: ao apagar a memória dolorida, você também apaga a memória feliz.
Quando temos uma desilusão amorosa, a nossa tendência é focar na dor e em tudo o que perdemos com a separação. Sei lá, deve ser uma autodefesa da mente. Mas se você perdeu alguma coisa, quer dizer que durante um tempo a teve, certo? E deve ter sido bom, senão você não estaria sentindo falta agora.
Há um conceito do taoísmo que diz respeito à dualidade de tudo o que existe no universo. O princípio deles é que o preto só existe se o branco existir. Isso se aplicaria, também, aos nossos sentimentos.
Acredito que a dor da desilusão é equivalente à força do amor que um dia houve. E apagar estas duas emoções da memória seria o mesmo que deixar todo o seu passado em cinza. Uma ideia que, definitivamente, não me interessa.