InícioAtitudeSêneca e o ciclo da vida: um guia estoico para superar o medo da morte

Sêneca e o ciclo da vida: um guia estoico para superar o medo da morte

A morte é uma das inevitabilidades da vida, e muitos ao longo da história têm buscado os meios de confrontar e de compreender esse destino comum a todos nós. E, até o presente momento e o atual desenvolvimento da ciência, tal medo e precauções são vãos; em última instância, vamos todos morrer.

Mas, uma vez que esse é o nosso destino comum, o que nos cabe fazer? A filosofia estoica, que floresceu na Grécia e em Roma, pode nos dar uma resposta de acordo com a sua perspectiva singular sobre como enfrentar e aceitar a morte de maneira corajosa e serena.

Sêneca, um dos mais proeminentes filósofos estoicos, mergulhou profundamente na natureza transitória da vida na Epístola 4 de seu livro “Edificar-se para a morte: das carta morais de Lucílio“. Essa epístola em particular consiste em um verdadeiro testemunho do poder do pensamento estoico na ajuda ao entretenimento e aceitação do ciclo natural da existência.

Vamos, então, lê-la cuidadosamente? Eis o seu conteúdo:

Certas situações devem ser menos temidas justamente porque causam muito medo. Não é grande o “mal” derradeiro. A morte vem em sua direção: deveria ser temida se contigo ela pudesse coexistir, porém, necessariamente, ou ela não te alcança ou atravessa o seu caminho.

[,,,]

Não pode contar com uma vida serena quem pensa demais sobre como prolongá-la, quem contabiliza entre seus maiores bens muitos anos de vida.

Reflita sobre isso diariamente para que possa, com espírito tranquilo, deixar esta vida à qual tantos se agarram e se prendem tal como a espinheiros e pedras que os que são levados pela correnteza. A maioria fica miseravelmente à deriva entre o medo da morte e as tormentas da vida e, não querendo viver, não sabe morrer.

Desse modo, torne a sua vida agradável abandonando toda a preocupação com ela. Bem algum é útil ao seu dono se seu espírito não estiver preparado para perdê-lo. Ora, a perda menos dolorosa é a perda de algo de que não se sente falta. Logo, se encoraje e se fortaleça diante de situações que podem acontecer mesmo aos mais poderosos.

[…]

Ninguém a fortuna elevou tão alto que ela não ameaçasse com tudo quanto ela mesma havia permitido. Não confie nessa calmaria: o mar se torna revolto em um segundo. Há navios que são tragados no mesmo dia em que se lançam ao mar.

[…]

O que quero dizer é que está destinado a morrer desde que nasceu. São coisas assim que devemos acalentar no espírito se desejamos esperar placidamente pela hora final, cujo medo transtorna todas as demais.

A PRÁTICA VIVA DO ESTOICISMO: POR QUE É IMPORTANTE COLOCÁ-LO EM AÇÃO

Dentro do mundo da filosofia, existem figuras que transcenderam seu tempo, oferecendo ensinamentos que ressoam até os dias atuais. Entre eles, Sêneca, o autor da carta que hoje abordamos, Marco Aurélio e Epicteto ocupam um lugar de destaque.

Estes filósofos estoicos não apenas debateram sobre a vida, o sofrimento e a serenidade, mas também buscaram viver os seus ensinamentos, às vezes fracassando e outras obtendo êxito. Se você gostou do conteúdo desse texto, saiba que o Estoicismo é, antes de tudo, uma prática.

A leitura das obras estoicas não é apenas um mergulho em teorias e conceitos; é uma jornada de autodescoberta e de transformação. No entanto, é essencial entender que o estoicismo não promete uma estrada fácil. Ele nos ensina que falhar é humano, e é esperado. Mas o que realmente importa é a persistência em nos esforçarmos, dia após dia, para incorporar esses ensinamentos em nossas ações e pensamentos.

Ao abraçar o estoicismo e ao esforçar-se para viver segundo seus preceitos, a serenidade e a paz, tão amplamente pregadas por Sêneca, Marco Aurélio e Epicteto, tornam-se metas tangíveis, mesmo em meio ao caos do mundo moderno.

Camila Nogueira Nardelli
Camila Nogueira Nardelli
Leitora ávida, aficcionada por chai latte e por gatos, a socióloga Camila escreve sobre desenvolvimento pessoal aqui no El Hombre.