Hoje, 22 de setembro, é o Dia Mundial Sem Carro e essa é a Semana da Mobilidade. Diversas iniciativas estão sendo realizadas no planeta todo para alertar sobre a necessidade de continuarmos – e mais intensamente – a reconsiderar o nosso uso inadequado do carro.
E a alternativa a esse meio de transporte que tem parecido mais interessante para muitos é a bicicleta. Eu, em particular, compartilho dessa ideia. Totalmente.
Há 6 anos e meio meu Palio preto – bom companheiro – foi roubado na rua. Sem seguro. Bateu um puta desespero na época. Eu fazia tudo com o carro. Ou seja, estava fodido!
Contudo, só viria perceber depois que, na verdade, fodido eu estava com o carro – e não sem ele.
Como não dava para comprar outro automóvel, adotei uma Sundown branca que estava parada na garagem como meu meio de transporte. E de lá para cá minha vida ganhou outro tom. Desde então eu passei a andar de bicicleta cotidianamente.
Me tornei um ciclista do cotidiano.
Muito difícil? Nem um pouco. Bem tranquilo, na verdade!
Andar de bicicleta em grandes cidades é uma tarefa considerada árdua pela maioria das pessoas. Mas, por experiência própria, posso dizer que não é. É divertido, isso sim.
É claro que há seus desafios. Mas qual tarefa não apresenta desafios ao ser iniciada?
Hoje há muitas recomendações para quem quer começar a pedalar numa cidade grande – compre tal bicicleta; adote esses acessórios; preste atenção nisso; não faça aquilo. E isso tudo é válido. Eu mesmo já fiz um texto com dicas para andar de bicicleta em cidades grandes.
O problema é que isso dá um certo climão à tarefa de pedalar na cidade. E, sério, não precisa ter climão. É só pegar sua bike e pedalar.
Você vai encontrar alguns percalços no começo? Óbvio. Quando uma criança começa a andar ela não tem que superar obstáculos? Não cai aqui e ali até aprender a se equilibrar? É uma boa e pobre (eu sei) analogia.
Não se deixe impressionar pelo excesso de comentários negativos que têm surgido atualmente. Saia e experiencie a pedalada cotidiana você mesmo. Só assim para saber o que realmente significa isso.
Outro dia falamos com a blogueira Cris Marques sobre a prática do couchsurfing. Eis o que ela disse em determinado momento da conversa:
As pessoas que falam que couchsurfing é perigoso nunca saíram de casa. Elas ficam vendendo medo para aqueles que querem sair. Eu percebo muito isso, esse medo das pessoas. Mas se nunca saiu de casa, então qual a referência que tem? Quem já usou o serviço sabe que não é perigoso.
Eu trago o mesmo raciocínio para a pedalada cotidiana.
Veja, não é que não há riscos. Sim, há. Contudo, não mais do que outras atividades que consideramos normal.
Tipo viver.
Os perigos na bicicleta, ao meu ver, estão muito mais associados à imprudência do ciclista do que a fatores externos. Quem anda numa boa não se expõe e diminui as possibilidades de acidentes a níveis ridiculamente pequenos.
Em seis anos, andando todos os dias, os únicos acidentes que sofri foram (1) uma queda sozinho e (2) uma portada na cara enquanto andava na sarjeta. Fora isso, um ou outro carro que passa com muita proximidade de mim. Só que essas não são situações monstruosas. É algo que supera-se com alguma tranquilidade se você estiver disposto a vencer o desafio.
Atualmente pedalar ganhou uma aura hypada. Ao passo que se teme encarar o trânsito monstruoso com uma magrela, se deseja intensamente fazê-lo. A bike é o novo desejo dos habitantes de grandes cidades.
Mas isso é bobagem. Esqueça essa imagem endeusada da bicicleta. Pense que ela continua aquela velha e humilde companheira da infância. É tipo com mulher: quanto mais você endeusa, mais difícil será a aproximação.
Para começar a pedalar na cidade você não precisa ter uma habilidade invejável, mas apenas uma coisa: vontade.
Encontrei um texto escrito por Esther Sá no site Pedalinas contando como ela se jogou na ideia de aprender a andar de bike numa cidade grande. Esther é simplesmente fantástica. Olha só o que a moça diz:
Queridas, eu mal sei subir e descer de guias de calçada. Às vezes (e não é raro) me canso em algumas ladeiras. Não sei fazer nenhuma manobra. Não me arrisco muito em corredores. Também sou horrível com mapas, e me perco com bastante facilidade. Hoje mesmo tropecei loucamente subindo a Avenida Rebouças, e, aos risos, me reequilibrei para largar no farol verde.
Mesmo assim, pedalo ida e volta, para todos os lugares que vou. Mesmo grandes avenidas – no caso de eu não conhecer uma rota alternativa mais adequada – não mais me intimidam. Como? Bom, eu basicamente, não tenho vergonha. Cansei? Desloco-me para a calçada, e empurro a bici até recuperar o fôlego.
Me senti insegura com algum obstáculo? Sem pressa. Desvio, ou desmonto e empurro, sem crise. Pra mim que não vivenciei a bike desde pequena, os movimentos não são tão naturais, e, se não me sinto confortável, sem o menor pudor, simplesmente não me forço. É assim que quase 20 km diários se tornaram um prazer, entre ladeiras sofridas que, dia sim, dia não, são até divertidas e banais.
Então, é óbvio, admiro imensamente minhas companheiras de pedal, com suas manobras, track-stands, sprints e pernas de aço. Espero chegar ao nível delas algum dia! Contudo, do alto de minha franguísse, garanto de peito cheio: você também pode.
Faço delas as minhas palavras e encerro o caso.
Agora vá e pedale!
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