Os seriados conquistaram o mundo já há algum tempo. Em meu pequeno círculo pessoal de amigos e familiares, consigo contar sem grande esforço dezenas de pessoas que fazem maratonas incansáveis de séries. E quando eles esgotam as possibilidades, ou se veem sem sentido na vida, ou partem numa busca desesperada por alguma série desconhecida nessa vasta internet.
E o negócio está tão incontrolável que a Netflix até cirou um “atestado de pós-maratona” para quem não tem condições de trabalhar ou estudar no dia seguinte a uma longa e extenuante sessão:
Pois agora os maratonistas ganharam mais um motivo para se afundar nas séries (como se não bastasse a sensação maravilhosa de se acomodar no sofá, abrir o Netflix e devorar todo conteúdo disponível).
O pessoal da University of Oklahoma acabou de publicar uma pesquisa no Psychology of Aesthetics, Creativity, and the Arts relacionando as séries de TV à Teoria da Mente.
O estudo chama-se, permitindo-me uma tradução livre: “Ficção e Cognição Social: o Efeito de Assistir Dramas Televisivos Premiados na Teoria da Mente”.
O trabalho separou três grupos: um que assistiria grandes séries; outro que assistiria documentários; e outro que não assistiria porra nenhuma (desculpem-me, mas esse “porra nenhuma” pareceu cair perfeitamente).
A ideia é que depois de assistirem os programas (ou não), as pessoas respondessem o teste (permito-me traduzir novamente) “Lendo a Mente Nos Olhos”. Esse teste é formado de 36 questões em que são apresentados olhares que deverão ser enquadrados em alguns sentimentos. É divertido até. Você pode realizá-lo aqui, se quiser. Só que está em inglês – e não tem minha fantástica tradução.
Aqueles que assistiram aos seriados se saíram melhor do que quem viu documentário e muito melhor do que quem ficou boiando. Os pesquisadores concluíram que esses caras têm mais inteligência emocional do que os outros e maior poder de empatia.
E faz sentido, senhores!
Os seriados hoje em dia são tão bem elaborados que apresentam personagens basante complexos, com histórias de vida cabeludas e perfis psicológicos capazes de fazer Freud pedir arrego.
Além disso, as narrativas muitas vezes são traçadas de forma tão inteligente que nos fazem enxergar, ao mesmo tempo, várias perspectivas de uma mesma situação. É como se vivêssemos todos aqueles personagens juntos. Esse é um estímulo gigantesco para o nosso intelecto social. (Gostou dessa? Intelecto social…)
Bem diferente do que acontece, por exemplo, com as batidas novelas brasileiras e seus personagens esteriotipados deprimentes. Fora os roteiros chulos que se repetem de forma ofensiva.
Mas, bom, prossigamos.
Os seriados inteligentes certamente ampliam a nossa capacidade de enxergar outras formas de ver a vida, nos mostram condições de existência totalmente diversas das nossas, fazendo-nos percorrer e vivênciar universos além de nós sem nem mesmo nos tirar da cama.
Óbvio – mas é óbvio – que assitir a uma série produzida na Índia não é a mesma coisa do que ir à Índia. Mas também não é a mesma coisa do que não ir à Índia e não assistir a porra nenhuma.
Compreende?
O estudo utilizou as seguintes séries: Mad Men, Lost, The West Wing e The Good Wife. Ou seja, apenas dramas. Então a pesquisa não foi conclusivo quanto às séries no geral. É preciso que se façam outros estudos para saber se comédias e outros gêneros também promovem a inteligência emocional.
Mas, no fim, moral da história: se joga mesmo nos seriados!
Apenas, calma lá, fique antento, porque não adianta você ter um puta poder de empatia se não sai do quarto para socializar.