Sento-me para escrever este texto com dor no coração.
Torço para o Chicago Bulls desde que me conheço por gente; talvez até antes mesmo de virar corintiano. Quando eu tinha 4 anos, em 1991, Michael Jordan estava conquistando o seu primeiro título da NBA. Meu pai, nascido em maio, portanto um Bulls até mesmo de signo, sempre foi um entusiasta de Jordan por seu instinto matador e frieza nos momentos decisivos das partidas. Jordan não tremia e meu pai o admirava por isso. Ao ver suas performances épicas nos playoffs da NBA, foi uma consequência natural para mim adotar o Chicago Bulls como time e Jordan como ídolo.
Então dói-me admitir o que os números sugerem: sim, LeBron está no caminho de ultrapassar Jordan como o maior jogador da história do basquete.
Quinta-feira, na final da temporada 2012/13, torci loucamente pelo San Antonio Spurs contra o Miami Heat de LeBron; admiro a classe e categoria dos atletas do time texano, especialmente Tim Duncan e Tony Parker. Minha vontade era escrever o texto: “LeBron amarela e fica com o vice da NBA”.
Só que não.
O camisa 6 do Heat jogou como um monstro e fez jus ao título de fenômeno que recebeu ainda em 2003, aos 18 anos, quando chegou à liga logo após sair do colegial. (O caminho natural da maior parte dos jogadores é fazer 2 ou 3 anos de faculdade, jogando a liga universitária da NCAA, para só depois participar do draft, uma espécie de processo seletivo em que os times da NBA escolhem seus novatos, e enfim profissionalizar-se. Poucos atletas fazem a escolha de LeBron, de pular esta etapa da carreira. Kobe Bryant foi um deles.)
Eis os números de LeBron na partida, que foi a sétima e decisiva na série contra os Spurs: 37 pontos, 12 rebotes e 4 assistências, sendo que ele acertou 50% de todos os arremessos de três que arriscou (5/10), um aproveitamento impressionante. A partida terminou com um placar de 95 a 88 em favor do Miami, garantindo o segundo título nacional seguido do time.
Naturalmente, ele foi eleito o jogador mais valioso da final.
Vamos aos fatos, então.
LeBron agora tem 2 títulos da NBA, ainda longe dos 6 de Jordan. Mas quando MJ ganhou seu segundo anel da liga, tinha 29 anos; o ala do Miami tem 28. Alguém poderia dizer: “Espera aí, quem garante que ele vai empatar com o Jordan? Só quando o LeBron ganhar mais 4 campeonatos dá para discutir quem foi melhor.” Esse é um argumento típico de quem não acompanha basquete. Seria como dizer em 2006, quando Roger Federer estava no auge e conquistando três Grand Slams por ano, que o Sampras era incomparável pois tinha 14 títulos de major, contra então 9 do tenista suíço. Mas os verdadeiros fãs do tênis sabiam que Federer estava dominando circuito e que a tendência, a não ser que um desastre ocorresse, era que esse número crescesse rapidamente. Na NBA, é a mesma coisa. LeBron chegou às finais nos últimos três anos consecutivos e ganhou duas delas. Seria uma das maiores surpresas do esporte se ele estagnasse em dois títulos.
É de se esperar que LeBron tenha pelo menos mais 8 temporadas à frente dele, levando em consideração a sua idade. Mas como a sua capacidade física é de outro planeta — ele tem o tamanho de um pivô com a agilidade de um armador — podemos apostar em até dez. E como ele não dá qualquer sinal de queda de produção em quadra, é provável que acabe conquistando metade destas disputas, pelo menos empatando com Jordan ou até mesmo o ultrapassando.
Se Lebron contou com um time espetacular para ajudá-lo em ambas as conquistas? Sim, é verdade: Dwayne Wade e Chris Bosh são os colegas que qualquer craque gostaria de ter ao seu lado. Mas vale lembrar que Jordan ganhou todos os seus títulos ao lado de Scottie Pippen, outra lenda das quadras. E quando dizem que a NBA de Jordan era mais forte — pois ele jogava contra Larry Bird, Charles Barkley, Magic Johnson e Hakeem Olajuwon — olha só os adversários de LeBron: Kobe Bryant, Kevin Durant, Tim Duncan, e Chris Paul, para ficar apenas em alguns. Definitivamente, não fica atrás.
Quando o assunto é MVP (Jogador Mais Valioso) da liga, é praticamente inevitável LeBron ultrapassar Jordan. Ele possui quatro, apenas um a menos que MJ na carreira, sendo que ganhou 4 das últimas 5 eleições.
Ao analisar os números dos dois atletas nos fundamentos principais do basquete – pontos, assistências e rebotes – Jordan leva vantagem na pontuação. Ele tem uma média de 30,1 por jogo e alcançou 32 mil na carreira. LeBron, por outro lado, possui 27,6 e está com 21 mil. A perspectiva é que ele ultrapasse Jordan no número total, mas não na média. Enquanto isso, LeBron costuma dar 6,9 assistências e pegar 7,3 rebotes por partida, contra 5,3 e 6,2 de Jordan respectivamente. Em outras palavras, o ala do Chicago Bulls é mais decisivo, mas o do Miami é mais completo como jogador.
Desde que LeBron entrou na NBA, comparações entre ele e Jordan tem sido frequentes. Mas um fator essencial jogava contra ele: o nervosismo em momentos decisivos. LeBron perdeu suas duas primeiras finais disputadas, em 2007 pelo Cleveland Cavaliers e em 2010 pelo Miami. Em ambas as ocasiões, jogando aquém do que se esperava dele. Nos últimos dois anos, porém, ele se redimiu e mostrou que amadureceu, liderando com categoria o Heat em dois títulos consecutivos. A velha história de que LeBron é um “choker”, palavra usada pelos americanos para denominar “amarelão”, faz parte do passado, então.
Nunca se teve dúvida quanto ao talento de LeBron.
Já o seu psicológico era altamente questionável.
A má notícia para os torcedores do Bulls, os fãs de Michael Jordan e os haters do LeBron (que não são poucos) é que o homem aprendeu a controlar a ansiedade.
E se nenhuma lesão atrapalhar a sua carreira, é uma consequência provável que ele roube de Jordan o título de maior jogador de basquete da história. Os números não mentem.