Muitos ainda pensam que demonstrar hombridade é se agarrar à razão, mas poucas atitudes são piores do que perseverar num ponto de vista obviamente equivocado. Isso é orgulho puro, no sentido mais pejorativo que há. É um orgulho que cega a ponto de não nos deixar perceber as pessoas sentindo vergonha alheia por nós.
Mas ainda somos alimentados por esses sentimentos vaidosos. Essa é a realidade — e negar isso seria tão infantil quanto perseverar no erro. Por isso pedir desculpas é algo que encontra tantos obstáculos em nós.
É como se desculpar-se fosse coisa de gente tola, faz-nos sentir pequenos — porque grande, afinal, é aquele que não erra. Esse tipo de pensamento tem gerado uma obsessão pela perfeição que está beirando níveis patológicos.
Dignidade, como nos orienta o dicionário, é um “modo de proceder que infunde respeito”. E quem você respeita mais, o cara que fala “desculpe, eu errei” ou que permanece orgulhosamente inerte nos seus enganos?
Acontece que desculpar-se não é um ato que se limita a palavras. Vai bastante além disso. Então resolvemos preparar um guia básico e objetivo para agir da maneira mais honrada possível diante de um deslize cometido.
Antes de qualquer coisa, para se desculpar você precisa admitir que errou e para isso é preciso boa dose de humildade. Estamos todos sujeitos a falhar e não há problema algum nisso. É mais do que normal.
Quando alguém se mostrar chateado com você, perceba se a primeira coisa que faz é começar a procurar respostas para se justificar, tentando se esquivar de um possível erro. Se sim, possível que ainda não esteja muito aberto a reconhecer sua falha.
Abra mão da perfeição, considere a possibilidade de realmente ter errado e analise com frieza a situação para decidir com imparcialidade se, afinal, equivocou-se ou não.
Ah, e se você achar que não errou, então não há necessidade de pedir desculpas. Nunca tome essa atitude se não for verdadeira. Nesse caso, use o raciocínio e mostre para a pessoa os motivos pelos quais entende que não errou. Se ela não compreender, paciência. Possível que quem lhe deva desculpas seja ela.
Depois de ter reconhecido que comeu bola, é hora de tomar uma atitude. Não demore muito nesse meio tempo. Na verdade, demore o menor tempo posível. Quanto mais você demorar maiores são as chances de não pedir desculpas.
Importante ressaltar que uma desculpa não deve ser usada com interesse. Então, antes, identifique se você tem um interesse por trás da vontade de se desculpar (tipo voltar a transar com uma ex-namorada).
Quando o pedido é genuíno, nós estamos realmente dispostos a não cometer o mesmo equívoco no futuro. Pode ser até que venhamos a fazer a mesma besteira — mas, naquele momento, estamos decididos a não reicindir na falha.
Ao encontrar a pessoa, seja objetivo. Nada de ficar enrolando para entrar no assunto ou de usar estratégias (como flores, por exemplo) para tentar facilitar a situação: é olho no olho. Diga para a pessoa que você reconhece seu erro, se necessário peça uma nova chance e ponto.
Também não tem necessidade de ficar se justificando. Apenas o faça caso a pessoa realize perguntas. Se isso não acontecer, fique na sua.
Nosso papel quando pedimos desculpas é esse: pedir desculpas. Nada mais. Se a pessoa vai aceitar ou não, já não está sob nosso controle. Claro que torcemos para que ela nos entenda. Mas, voltando ao item 2, o genuíno pedido de desculpas não tem outro interesse que não o reconhecimento da falha.
O verdadeiro interesse de uma desculpa não é tentar convencer o outro de nada, mas de se revelar consciente de suas atitudes àquele que foi alvo delas.
“A primeira glória é a reparação dos erros”, disse certa vez Machado de Assis. Quando erramos causamos alguma pertubação física e/ou emocional. Nada mais justo — e digno — do que usar nossas forças para reparar essa pertubação, portanto.
Pedir desculpas não é algo fácil mesmo — mas não podemos ficar satisfeitos somente com as palavras, mesmo que sinceras. Um verdadeiro pedido de desculpas termina apenas quando nossos esforços se somam para procurar equilibrar os problemas que criamos com nossa pisada de bola.
Se esse equilíbrio vai acontecer ou não, como falamos, já não está sob nosso controle. Mas precisamos, temos o dever de tentar a reparação.
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