O vício em trabalho estaria caindo em desuso?
É a pergunta que se impõe quando você observa o que está acontecendo na Coréia do Sul, um dos chamados Tigres Asiáticos – um país que cresceu vigorosamente nos anos 60 e 70 graças à mistura de foco obsessivo em educação e de entrega absoluta das pessoas ao trabalho.
É comum você ver, em altas horas, prédios iluminados nas grandes cidades da Coréia do Sul. São pessoas que estão no escritório, trabalhando, trabalhando e ainda trabalhando. Os coreanos, segundo um levantamento da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico, são o povo que mais trabalha em todo o mundo: mais de 2 200 horas em média por ano. Países europeus costumam ficar na faixa de 1 600 horas.
As férias, segundo a legislação, são de duas semanas por ano, mas quase ninguém tira. Os funcionários costumam quebrá-las em várias partes: dois dias aqui, três ali, e assim por diante. Há uma cultura instalada entre os coreanos que leva você a temer que, se as coisas funcionam na sua ausência, é que você é desnecessário.
O governo quer mudar isso. E as empresas também. Há campanhas que estimulam as pessoas a viajar de férias – até para aumentar a taxa miserável de uso dos hotéis do país. Algumas empresas estão tomando medidas extremas para diminuir a carga excessiva de trabalho. Um banco decidiu bloquear o acesso de seus funcionários aos computadores corporativos quando eles estão de férias.
Mudaram as coisas, afirmam as autoridades coreanas, e o país precisa se adaptar a isso.
Muito mais que horas pantagrélicas de trabalho de empregados que se esfolam física e mentalmente, o que as companhias precisam é de idéias, inovações, criatividade. São coisas que quase nunca estão associadas a jornadas extenuantes. Ao contrário. Só os ociosos inovam. Os continuamente ocupados apenas reproduzem coisas automaticamente.
O Brasil herdou a cultura workaholic americana, e deveria rever isso também. O governo Dilma deveria reunir empresários e dar um pulo na Coréia do Sul para ver o que está acontecendo lá. E não só lá, aliás: outros Tigres Asiáticos passam por uma experiência semelhante.
Lembro que quando dirigia a Exame editei uma capa cuja chamada era: “Só os paranóicos sobrevivem”. Era inspirada em Andy Groove, da Intel, e basicamente pregava que as empresas deveriam ser paranóicas na competição – e seus empregados também.
Não.
Os paranóicos se arruinam.
Os inovadores, os criadores têm que ter tempo, calma, tranquilidade para pensar. A inovação corporativa só é feita por gente que sabe parar para pensar – em vez de ficar alucinadamente presa ao trabalho em regime de 24 por 7.