Não é de hoje que o absinto é a bebida destilada mais cercada de mitos que existe. Musa de grandes autores no século XIX, a bebida ganhou fama através dos vários relatos sobre seus efeitos alucinógenos e que foram imortalizados em obras de escritores como Oscar Wilde e Charles Baudelaire, famosos apreciadores de um bom absinto.
Oscar Wilde é, sem dúvida alguma, a personalidade que mais demonstrou seu apreço pela bebida criada na Suíça no século XVI, inicialmente para fins médicos. O escritor dizia ver tulipas crescerem em suas pernas enquanto bebia. Sua frase mais famosa sobre a bebida verde gerou grande curiosidade na época: “Após o primeiro copo é como uma bebida comum, depois você começa a ver coisas monstruosas e cruéis, e após essa etapa você finalmente vê as coisas como elas realmente são, e isso é a pior coisa do mundo.”
Eram poucos os que não estavam dispostos a experimentar a bebida para vislumbrar todas as etapas alucinógenas descritas por Wilde. Tal frase atrai, para o consumo do absinto, curiosos até nos dias de hoje. O chef inglês Heston Blumenthal, do Fat Duck, restaurante que na década passada ocupou o posto de melhor do mundo durante vários anos consecutivos, se aventurou em uma degustação da bebida preferida do escritor irlandês. Em seu programa de televisão Heston Feast, ele empinou várias taças de absinto com o objetivo de alcançar a terceira etapa citada por Wilde. Não conseguiu. Blumenthal não foi surpreendido por nenhuma alucinação, mas frases do tipo “Sempre imaginei como seria fazer banana com uma vaca de três patas no pôr do sol” foram ditas por ele na mesa como se fizessem algum sentido. Dessa aventura alcoólica o apresentador somente ganhou uma ressaca gigantesca, que inclusive comprometeu as filmagens no outro dia.
O absinto com certeza se tornou mais intrigante com os relatos de Wilde, mas pode-se também dizer que o escritor irlandês, nascido em Dublin, se tornou mais intrigante graças ao absinto, sendo até hoje considerado uma das figuras mais curiosas e excêntricas da Europa do século XIX. Vários de seus contos foram escritos sob efeito desta bebida que mais tarde se tornaria seu vício.
Escrever após várias doses de absinto é algo que nos remete automaticamente a Charles Baudelaire, escritor francês considerado demasiadamente controverso e obsceno para sua época, e que escreveu vários de seus principais textos embriagado de seu destilado preferido. Dizia que de seu sabor retirava todas as alucinações poéticas do mundo. O autor de Flores do Mal inclusive escreveu o Hino à Beleza não apenas sob o efeito da bebida como, também, em homenagem à bebida, pois a mulher idolatrada por ele no texto é na verdade a imagem de uma bela mulher que só ele enxerga, já que ela sai de dentro da garrafa de absinto. O texto foi escrito, obviamente, em uma das várias bebedeiras de Baudelaire. É dele e de Oscar Wilde a autoria da expressão “Fada Verde”, alusão à cor da bebida e a tal imagem da mulher saindo de dentro da garrafa.
Não há dúvidas que a fama do Absinto surgiu graças às incontáveis histórias sobre alucinações, algo que acompanhou a bebida durante séculos até ser finalmente desmentido. Após vários estudos foi comprovado que o absinto não provoca efeitos alucinógenos. O teor alcoólico da bebida pode chegar a 89%, que é o caso do famoso Hapsburg Dark, feito na Inglaterra, e as consequências do consumo se tornam mais graves e alarmantes por conta da substância Tujona, presente na bebida e que em doses muito altas pode ser tóxica.
Oscar Wilde e Charles Baudelaire não foram os únicos famosos apreciadores do absinto; nomes como Van Gogh e Claude Monet também aparecem como consumidores assíduos. Se as alucinações relatadas por Wilde e Baudelaire foram inventadas ou se realmente os atormentavam durante seus constantes encontros com o absinto (talvez causadas pela combinação com outras substâncias) não importa. A magia que envolve a bebida e principalmente seus célebres admiradores é o que ainda provoca imensa curiosidade sobre a vida daquela época e sobre os textos escritos nesse período. Uma relação tão intensa que foi descrita por Wilde como “algo tão poético quanto qualquer outra coisa no mundo.”