Descobrir uma música que ressoa com o seu ser é como desvendar uma parte escondida de si mesmo. Da mesma forma, encontrar o livro certo no momento certo pode ser uma revelação, alterando não apenas a forma como vemos o mundo, mas também como nos vemos nele. Combinar essas duas formas de arte pode ser uma experiência transformadora. Este artigo propõe uma jornada única: conectar sua música favorita do álbum “Eternal Sunshine” a um livro que você deveria estar lendo agora. Através desta exploração, mergulharemos em mundos literários que refletem as nuances emocionais e temáticas de cada canção, oferecendo novas perspectivas e compreensões.
Se “intro (end of the world)” capturou sua atenção, “Grandes Esperanças” de Charles Dickens é o companheiro literário que você procura.
Neste livro, Dickens tece uma história de perda, amor e redenção em meio à Era Vitoriana. O protagonista, Pip, outrora um pobre órfão, recebe uma fortuna de um benfeitor misterioso e deve adaptar-se à sua nova vida. Em meio a isso, vive uma paixão amorosa repleta de questionamentos por uma beldade fria e distante, Estella Havisham. O livro desdobra a complexidade das relações humanas e a busca incessante pela realização pessoal, espelhando a melodia introspectiva e esperançosa da música.
Aqueles atraídos por “Bye” encontrarão uma alma gêmea literária em “Jane Eyre” de Charlotte Brontë.
A história de Jane, que luta por dignidade e liberdade dentro de uma sociedade que limita as mulheres a uma série de papéis secundários, é um testemunho do poder do espírito humano. O romance explora temas de amor, mas um amor ligado à autossuficiência e ao ato de escolher a si mesma – o que Jane faz, em determinado momento, ao declarar ao homem a quem ama, que já é casado: “Mr. Rochester, eu não serei sua”.
“Don’t Wanna Break Up Again” me remete ao livro “A Moradora de Wildfell Hall”, de Anne Brontë (sim, uma das irmãs da autora anterior). No livro, a protagonista, Helen, se vê presa a um casamento com uma pessoa a quem deixou muito tempo atrás de amar – e é tomada por questionamentos quanto a continuar a cumprir o seu papel como esposa virtuosa ou escapar, buscando uma vida própria.
Se “Eternal Sunshine” é a sua escolha, “O Grande Gatsby” de F. Scott Fitzgerald captura seu espírito. A busca de Gatsby (interpretado no cinema por atores como Robert Redford e Leonardo DiCaprio) pelo amor perdido em um mundo onde a aparência muitas vezes se sobrepõe à substância, reflete o anseio e profunda melancolia da música.
Este clássico revela as ilusões do sonho americano e a complexidade das relações humanas, espelhando a beleza trágica e a esperança eterna.
Aqueles atraídos por “Supernatural” encontrarão uma alma gêmea literária em “Os Maias”, do escritor português Eça de Queiroz, que narra o relacionamento entre um fidalgo português e uma bela mulher, já casada, por quem apaixona-se perdidamente. Esse amor, traçado pelo destino mas – sem spoilers – não de uma maneira muito boa aos envolvidos, possui raízes na história de suas famílias, que se revelam pouco a pouco durante a narrativa.
“True Story” narra o relacionamento de uma mulher e de um homem que joga com ela como se ela fosse um videogame (Atari, mencionado na música). Isso me remete imediatamente a um dos principais enredos de um dos melhores livros de Jane Austen, “Razão e Sensibilidade”. Nele, temos retratadas as vidas das irmãs Dashwood, que após a morte do pai enfrentam a incerteza financeira e as complexidades do coração.
Marianne Dashwood, representante da Sensibilidade (em contraposição à sua irmã, Elinor, que representa o dom da Razão), apaixona-se perdidamente por um rapaz, Willoughby, que se assemelha bastante ao retratado nas entrelinhas de “True Story”.
Para os fãs de “The Boy Is Mine”, “Noite de Reis” de William Shakespeare é a escolha literária perfeita. Esta comédia explora temas de amor, identidade e engano, enquanto personagens se encontram em um emaranhado de relações amorosas e equívocos. Isso porque Olívia, uma das protagonistas, apaixona-se perdidamente pelo empregado de seu poderoso pretendente, o duque Orsino. O que Olívia não sabe é que o “rapaz” por quem está apaixonado é na verdade uma mulher, Viola.
A peça reflete a energia lúdica e as complexidades emocionais da música, oferecendo uma visão divertida e profunda das travessuras do amor. E, é claro, acredito que resumiria perfeitamente os sentimentos de Olívia.
Quem se identifica com “Yes, And?” encontrará ressonância em “E o Vento Levou” de Margaret Mitchell.
Se há uma heroína literária (controversa como esta possa ser) que provavelmente lançaria um “Yes, and?” depois de uma polêmica e do escárnio público, provavelmente seria Scarlett O’Hara. Debochada, imensamente egoísta e pouco preocupada com os sentimentos alheios, Scarlett é também determinada e indomável em face da adversidade.
Para aqueles cujo coração bate mais forte com “We Can’t Be Friends (Wait For Your Love)”, creio que o belíssimo livro “O Morro dos Ventos Uivantes” de Emily Brontë é a companhia literária ideal.
A história tumultuada de amor e vingança entre Heathcliff e Catherine, amigos de infância que se apaixonam violenta e intensamente, explora a natureza destrutiva do amor não correspondido e das paixões reprimidas, ecoando a profunda intensidade emocional e a complexidade das relações retratadas na música e no vídeo que a acompanha. Como diz ele a Catherine no momento da morte dela: “Fique sempre comigo, tome a forma que for, enlouqueça-me”.
Se “I Wish I Hated You” captura sua atenção, “Hamlet” de William Shakespeare oferece uma profunda exploração de conflito, vingança e dilema moral.
Não, Hamlet não se concentra no fim de um amor. Mas a jornada do personagem que dá título à obra, repleta de traições, loucura e questionamentos existenciais, envolve a sua dúvida quanto a vingar ou não a morte de seu pai, deixar-se odiar ou não o seu assassino.
Aqueles atraídos por “Imperfect For You” acharão em “Orgulho e Preconceito” de Jane Austen um reflexo de suas próprias complexidades emocionais.
A história de Elizabeth Bennet e Mr. Darcy, com seus mal-entendidos e “preconceitos”, captura a essência do amor verdadeiro que supera todo tipo de barreira, ressoando com a honestidade e a vulnerabilidade da música.
Para os que se encontram em “Ordinary Things”, “Romeu e Julieta” de William Shakespeare é a leitura essencial. A trágica história de amor dos jovens amantes, condenada pelas disputas familiares, reflete a beleza e a fragilidade das coisas cotidianas valorizadas na música. A peça oferece uma reflexão sobre o poder do amor verdadeiro.
Este passeio literário e musical revela como a arte pode ser um espelho da alma, oferecendo conforto, inspiração e compreensão em momentos de necessidade. Cada livro sugerido aqui não é apenas uma extensão da música que ressoa com você, mas também um convite para explorar as profundezas do ser humano e a complexidade das nossas emoções. À medida que cada nota e palavra se entrelaçam, esperamos que encontre não apenas entretenimento, mas também insights e uma nova perspectiva sobre a vida.
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