Ontem, depois de uma vitória suada e emocionante da Roma, que a garantiu o 2o lugar na temporada da Serie A italiana e sua classificação direta à fase de grupos da próxima Champions League, algo muito maior do que o jogo em si aconteceu: Francesco Totti, camisa 10, capitão e jogador da Roma há 25 anos, se despediu do clube pelo qual sempre torceux’.
Apesar de ter uma das torcidas mais apaixonadas da Itália, de ter montado grandes times e sempre contar com ótimos jogadores em seu plantel e história, a Roma só ganhou a Serie A três vezes. Uma delas, em 2001, com Aldair, Cafu, Emerson e Batistuta no time. E Totti.
Lembro que os jogos eram transmitidos pela extinta PSN na época. Acordava aos sábados, ainda menino, começando a conhecer o futebol europeu, e assistia aos jogos da Roma, louco para ver as assistências de Cafu, os gols de Batistuta e a classe de Totti, o camisa 10.
No mesmo ano, fui com meus pais para a Itália. Roma já é surpreendente por sua história. Mas, naquele ano, especialmente, a cidade tinha algo a mais: demonstrava toda sua paixão pelo futebol, a alegria de conquistar um título e a veneração aos seus ídolos, com faixas por todas as íngremes ruas e grafite dos jogadores nos muros da cidade.
Fui numa loja e comprei uma camisa do time. 10, Totti. E a tenho até hoje. Totti, de certa forma, era a personificação dessa paixão que podia sentir por toda a cidade.
Torcedor do time quando pequeno, assistindo aos jogos na Curva Sul do Estádio Olímpico na infância e adolescência e, de repente, um dos principais jogadores do clube que amava na conquista de seu terceiro Scudetto.
Foram várias propostas desde então. A mais marcante, com certeza, vinda do Real Madrid, recusada por ele. Como disse numa comovente carta, a Roma é seu time e Roma sua cidade.
Tivesse jogado pelo Real Madrid, poderia ter conquistado mais títulos do que em seu time de coração. Se conseguisse repetir em Madrid o que fez pela Roma, poderia ter brigado pelo prêmio de melhor do mundo, visto que nesse tempo chegou a ganhar a Chuteira de Ouro, dada ao maior artilheiro da Europa.
Mas isso não era maior do que a Roma para Totti.
Ao anunciar que o jogo diante do Genoa seria seu último pelo time romanista, os ingressos da partida rapidamente se esgotaram. O estádio Olímpico lotou como há muito não lotava. Tudo para se despedir do capitão.
Depois da vitória, a torcida ficou no estádio para ter o que realmente a fez ir lá, apesar da importância da partida: a chance de se despedir de seu ídolo.
A festa repleta de lágrimas, tanto do camisa 10, quanto de diversos torcedores que não sabem o que é a Roma sem Totti, deixava claro algo que muitas vezes esquecemos: a paixão capaz de fazer o futebol transcender.
Para a torcida, lá se ia o capitão, o camisa 10, o craque. Mas, acima de tudo, um outro torcedor. Alguém que por muitas vezes esteve na arquibancada, vivendo alegrias e tristezas, acompanhando e fazendo parte da história de time. Se torcedor não troca de time, Totti também não.
Já para Totti, tenho certeza que o que aconteceu no Olímpico de Roma nesse fim de semana valeu mais do que jogar por um Real Madrid e conquistar prêmios individuais.
Ali estava um torcedor que amou tanto um clube que conseguiu receber o amor de volta dos outros torcedores e colocar seu lugar na história do time, não de infância, mas de vida, como ficou claro.
Ver Totti, com sua família, sendo saudado por torcedores, jogadores e diretores no estádio Olímpico, recebendo emocionado e de forma muito elegante essa homenagem, sugere, além da enorme paixão de torcida por ídolo e ídolo por torcida, numa belíssima cena de amor recíproco em Totti, vemos a criança que conseguiu virar herói; o menino que conseguiu realizar seu sonho.
E isso vale muito mais que qualquer título. Faz bem para a alma de qualquer um.
Grazie, capitano.