Skyfall, um retorno às origens de 007

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É raro uma franquia conseguir se segurar por mais de 50 anos e 23 filmes — por mais que esses filmes tenham ou não uma linha de continuidade  ou sofram diversos reinícios e diferentes interpretações.

Mais difícil ainda é, no meio desta avalanche de filmes sobre o mesmo personagem, conseguir trazer algo novo e digno de nota, ainda mais sem perder as características que o marcaram.

E é isso o que 007 — Operação Skyfall, o novo filme da franquia Bond, faz.

O sucesso dos filmes de super-herói com um tom mais sombrio e a nova interpretação nos filmes de espionagem (principalmente com a Trilogia Bourne) acabou atingindo James Bond em suas últimas produções. Estávamos vendo um Bond com abordagem mais sóbria e séria, lembrando em muitos momentos a fase de Sean Connery, mas deixando de lado algumas marcas importantes do agente. Por exemplo, o uso de gadgets em suas missões.

Mas Skyfall, neste sentido, é um grande avanço: o filme consegue resgatar os traços mais puros da franquia.

Talvez por conta dos 50 anos da franquia recém-completados, o diretor Sam Mendes optou por fazer jus às raízes do espião. Todas as características marcantes do agente estão lá, seja nos chavões indispensáveis; na presença de Q (dessa vez interpretado pelo jovem Ben Wishaw) com seus gadgets (sem perder o realismo definido por essa fase, e até fazendo brincadeiras com os gadgets antigos, quase como se fosse um recado dos produtores e roteiristas aos fãs); de um vilão com “v” maiúsculo; na trilha marcando algumas entradas do espião em cena, sem medo de ser brega (e que, no fim, acabam sendo muito legais); e até na justa homenagem ao antigo Aston Martin usado por ele. Em seu novo filme, Bond não tem vergonha de ser Bond.

Sam Mendes comentou, numa entrevista recente, que Batman – O Cavaleiro das Trevas foi uma grande referência na direção que o diretor quis tomar em Skyfall. Essa influência é nítida em alguns pontos: o primeiro deles, exatamente no fato de Mendes trazer uma abordagem moderna sem perder as raízes do espião – na verdade, podemos dizer com absoluta certeza que Skyfall celebra os 50 anos atingidos pela franquia no cinema.

O segundo ponto está justamente na abordagem. Skyfall é o primeiro filme de Bond que coloca como ameaça elementos que fazem parte do mundo moderno: inimigos desconhecidos e “invisíveis”, usando a internet e suas ferramentas de comunicação como sua principal arma. Um oponente difícil de ser identificado e combatido.

Cabe um parênteses à atuação de Javier Bardem como o vilão do filme, Raoul Silva. Bardem, irreconhecível, traz uma interpretação de causar arrepios e risos (que chega, inclusive, a lembrar em alguns momentos a de Heath Ledger como Coringa, mas com uma participação menos intensa e mais curta). É cedo para dizer se Bardem será lembrado para o Oscar de Melhor Ator Coadjuvante, mas a verdade é que minha vontade ao fim de sua primeira cena era assisti-la de novo.

O enredo do filme foca na relação de Bond com sua chefe M, levando-os a lugares sombrios de seus passados e a enfrentarem problemas jamais levantados nestes 50 anos de franquia. É uma trama com muito mais diálogos e menos ação do que a maioria dos filmes do agente, mas que, mesmo assim, não deixa o espectador desviar os olhos da tela em nenhum momento.

A única ressalva que deixo é que gostaria de ter visto as consequências das ações de Raoul em uma maior escala — a reação do mundo moderno ao que acontece. Mas foi uma opção de Mendes e seu trio de roteiristas em aprofundar o relacionamento de Bond e M, além do passado dos dois. Justo, portanto.

Ao celebrar o legado de James Bond no cinema, Sam Mendes conseguiu fazer um filme que, definitivamente, será um marco dentro de uma franquia de mais de 50 anos.

E, de sobra, conseguiu fazer o melhor blockbuster do ano.

Diego Marques

Diego Marques é formado em Rádio & TV pela FAAP; fez um curso de televisão na National Film and Television School, em Londres; e estudou cinema na New York Film Academy.

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