É muito difícil começar um texto que você não gostaria de escrever.
Philip Seymour Hoffman foi encontrado morto na tarde deste domingo, 2 de fevereiro, em seu apartamento no bairro do Greenwich Village, em Nova York.
Assim como é difícil começar a escrever um texto como esse, percebo como é complicado saber por onde começar a falar de Philip Seymour Hoffman. É justo dizer que Hoffman era um dos maiores atores de sua geração, ao lado de nomes como Daniel Day Lewis, Sean Penn, Forest Whitaker e Joaquin Phoenix, para citar alguns.
É curioso perceber, diante do sucesso em sua carreira, o quanto Hoffman conseguiu se manter desconhecido do grande público – algo que o próprio admitiu em entrevistas, dizendo que seu lado “anônimo” estava desaparecendo com o passar dos anos.
Nascido no subúrbio de Nova York, Hoffman se formou na TISCH School of Arts da NYU e logo ingressou na carreira nos palcos da cidade. Depois de alguns papéis menores em longa-metragens – destaque para sua participação em Perfume de Mulher, com Al Pacino – não demorou muito para o ator chamar a atenção de talentosos cineastas e começar uma carreira de sucesso no cinema.
Talvez o calibre dos cineastas que colaboraram com Hoffman falem melhor sobre o ator: os irmãos Coen, Todd Solondz, Anthony Minghela, Bennet Miller, Charlie Kaufman, Spike Lee, Mike Nichols e Sidney Lumet, entre muitos outros, contaram com seu talento em produções.
Isso sem contar a constante colaboração que teve desde o começo com Paul Thomas Anderson, um dos maiores gênios do cinema atual, com quem teve sua última parceria no brilhante O Mestre, em que Hoffman interpreta uma espécie de L. Ron Hubbard (criador da Cientologia), criando uma religião chamada “A Causa”.
Sua versatilidade fazia com que navegasse entre papéis diferentes, vivendo personagens como o carismático Lester Bangs em Quase Famosos, o cuidadoso enfermeiro em Magnólia, passando por papéis sombrios como o do psicopata em Antes que o Diabo Saiba que Você Está Morto, último de Lumet, ou o determinado agente da CIA em Jogos de Poder, de Mike Nichols.
Interpretava o homem comum como poucos, os verdadeiros perdedores, rejeitados, como o operador em Boogie Nights e o solitário Allen na “dramédia” Felicidade, de Todd Solondz.
Hoffman também buscava personagens que encaravam grandes dilemas, muitas vezes em momentos conturbados de suas vidas. Interpretou um drag queen que tinha como sonho fazer uma cirurgia de mudança de sexo em Ninguém é Perfeito, de Joel Schumacher; um filho deprimido e pessimista tendo que cuidar com sua irmã de seu pai idoso; e um padre sendo colocado em cheque num caso de pedofilia.
Foi vivendo o icônico Truman Capote, autor de Bonequinha de Luxo, e que trabalhava em uma obra sombria e controversa que Philip conseguiu seu primeiro e único Oscar. Uma atuação impressionante, mesmo para alguém com tamanho talento.
Mas o ator também dava espaço para produções maiores – tanto que foi visto recentemente na sequência de Jogos Vorazes. E muitas vezes conseguia tirar algo extraordinário de projetos mais comuns, como o vilão interpretado em Missão Impossível: 3 e o espetacular Sandy Lyle, roubando a cena em Quero Ficar com Polly.
Nessa retrospectiva de sua carreira, chega a ser impressionante o tato que tinha para a escolha da papéis e projetos, quase como se tivesse planejado desde o começo, com escolhas cuidadosas, sensíveis e muitas vezes corajosas.
Hoffman, que havia revelado recentemente ter passado por um tratamento de reabilitação por uso de drogas, foi encontrado sem vida por seu staff no banheiro de seu apartamento, com uma agulha em seu braço esquerdo e três sacos de heroína vazios no lixo. Uma pena.
Hoffman andava ocupado, tendo apresentado dois filmes novos no Festival de Sundance. Um piloto que estrelou para o canal Showtime havia sido aprovado e o ator teria pela primeira vez uma participação na TV.
Um dos maiores de sua geração se foi. Uma carreira que com certeza ainda traria muitos frutos. Um talento que fará falta.
Descanse em paz, Phillip Seymour Hoffman.
Boogie Nights (1996)
Ninguém é Perfeito (1998)
Magnólia (1999)
Quase Famosos (2000)
Quero Ficar com Polly (2002)
Capote (2005)
Jogos de Poder (2007)
Dúvida (2009)
O Mestre (2012)
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