InícioEntretenimentoViaje no tempo: 6 romances essenciais de Dickens para sua estante

Viaje no tempo: 6 romances essenciais de Dickens para sua estante

Desbravando os meandros da sociedade vitoriana, Charles Dickens escreveu romances icônicos que até hoje cativam, emocionam e questionam.

Suas histórias, repletas de personagens memoráveis e enredos intricados, são leituras obrigatórias para qualquer amante da literatura clássica. Acompanhe-nos nesta jornada literária por cinco obras-primas deste notável autor.

GRANDES ESPERANÇAS

Posso começar com o meu favorito entre os romances de Dickens?

“Grandes Esperanças” nos apresenta Pip Pirrip, um órfão com aspirações elevadas que deseja ultrapassar a sua própria classe social, seja por vaidade, seja por amor à bela, fria e predatória Estella Havisham, filha adotiva de uma mulher tão rica quanto excêntrica e enigmática.

Pip, criado por uma irmã abusiva e um cunhado compassivo, é beneficiado por uma pessoa anônima e a partir de então um grande mistério se torna o assunto essential trama: quem é seu benfeitor secreto?

“Grandes Esperanças” é uma viagem profunda sobre a ambição, o amor e o autoconhecimento, repleta de reviravoltas surpreendentes e uma meditação sobre a natureza do destino e as consequências das escolhas que fazemos.

UM CONTO DE DUAS CIDADES

Neste épico, Dickens nos transporta entre Londres e Paris durante os turbulentos tempos da Revolução Francesa. Ele é, inclusive, iniciado com aquela frase clássica (“Foi o melhor dos tempos, foi o pior dos tempos“), considerada por muita gente um dos melhores inícios de livros de todos os tempos.

Com sua narrativa envolvente, ele destaca as diferenças sociais e políticas entre as duas cidades, usando como assunto a saga de dois homens – o aristocrata francês Charles Darnay e o advogado inglês Sydney Carton, que se assemelham enormemente em aparência e no amor que nutrem pela mesma dama, mas que possuem origens, vivências e objetivos distintos.

É um livro que me tocou profundamente, e que traz uma visão sobre a esperança de redenção em meio ao caos. E… Um bônus? Temos em Madame Defarge uma excelente vilã, ambiciosa e vingativa em igual medida. Quem nunca sentiu uma vontadezinha de repetir a sua frase icônica: “Diga ao vento e a fogo quando pararem, mas não a mim”.

DAVID COPPERFIELD

Em “David Copperfield”, Dickens traz ao leitor um panorama intricado da vida humana, desde os primeiros anos da infância até os desafios da idade adulta.

O romance é uma obra semi-autobiográfica, onde o escritor imprime as suas próprias experiências e observações, capturando o espírito da Inglaterra vitoriana.

Através das aventuras e desventuras do protagonista, cujo nome dá origem ao título, testemunhamos tanto a crueldade quanto a bondade humanas, a luta pela sobrevivência em uma sociedade de classes rígidas e as surpresas que o destino pode reservar.

Cada personagem que cruza o caminho de David, seja o amável Mr. Micawber ou o seu abusivo padrasto, contribui para moldar toda a sua jornada e oferecer ao leitor uma rica tapeçaria de emoções sobre a condição humana.

A PEQUENA DORRIT

Em “A Pequena Dorrit”, Dickens expõe os seus vícios, virtudes e especialmente os absurdos burocráticos da sociedade de sua época.

Amy Dorrit, a protagonista, nasce e cresce na prisão para devedores de Marshalsea, onde seu velho pai é o detento mais antigo. A partir do momento em que trava conhecimento com uma viúva de temperamento difícil e seu filho generoso e clemente, Arthur Clennam, a vida de Amy tem uma reviravolta impressionante e mistérios antigos são revelados.

O romance explora temas como dívida, prisão e riqueza (lembrando que essa foi uma realidade experimentada pelo próprio Dickens), mostrando como a estrutura social da época afeta tanto os ricos quanto os pobres. Com narrativa envolvente, o autor tece uma crítica mordaz ao sistema de classes e à natureza transitória da riqueza e do status.

Mas, no coração do livro, está a resiliente e gentil Amy, cuja jornada é uma ode à humanidade, amor e sacrifício em um mundo frequentemente indiferente. Ela é possivelmente a minha personagem feminina favorita em Dickens.

OLIVER TWIST

“Oliver Twist” é uma das obras mais contundentes de Dickens, e talvez a que melhor explora a pobreza profunda em que muitos de seus contemporâneos viviam e o meio como, mesmo em meio ao caos, à dor e à exploração, as pessoas boas continuam a brilhar na escuridão.

A narrativa gira em torno da vida de um jovem órfão que desafia continuamente as mais dolorosas adversidades. O sofrido Oliver, com sua inocência e determinação, se encontra em um mundo de criminalidade, pobreza e desespero. Cada personagem que ele encontra, do sinistro e explorador, mas complexo, Fagin, à leal Nancy e ao cruel Bill Sykes, desempenha um papel fundamental na crítica social que Dickens tece habilmente ao longo da narrativa.

Mas, além das camadas sociais e da injustiça, é também uma história sobre a busca pela identidade e pertencimento, mostrando que mesmo nas circunstâncias mais sombrias, existe a possibilidade de esperança e redenção.

A CASA SOTURNA

“A Casa Soturna” é uma das obras mais enigmáticas, complexas e longas de Dickens. Ela apresenta uma crítica afiada sobre a sociedade vitoriana através do prisma de um tribunal de justiça interminável. Nisso, se assemelha um pouco à “A Pequena Dorrit”. No entanto, as narrativas em si são muito distintas.

No caso de “A Casa Soturna”, temos uma história que gira em torno da corte de Chancery, onde heranças e disputas de familiares permanecem pendentes por gerações, resultando em desespero e ruína para muitos. A mansão que dá nome ao livro, Bleak House, torna-se um símbolo dos nevoeiros obscuros e das complicações da justiça.

Com uma variedade de personagens ricamente desenvolvidos, enredos complexos para cada um deles e uma atmosfera gótica, Dickens revela os vícios da burocracia e os males que podem advir da procrastinação legal, além das dores e das  desilusões que cada um de nós está destinado a enfrentar continuamente.

É uma meditação profunda sobre a moral, a justiça e as falhas intrínsecas das instituições humanas.

… Até a última página

O legado de Dickens permanece vivo e vibrante em cada página que viramos. A capacidade desse escritor magnífico de capturar a humanidade em seus personagens e enredos faz de sua obra um tesouro atemporal.

Ao embarcar na leitura de qualquer um desses romances, não se surpreenda ao encontrar risos, lágrimas e reflexões profundos. Dickens tem esse poder. E que poder!

Camila Nogueira Nardelli
Camila Nogueira Nardelli
Leitora ávida, aficcionada por chai latte e por gatos, a socióloga Camila escreve sobre desenvolvimento pessoal aqui no El Hombre.