Suki Zoe é uma mulher que trabalha com limpeza de cólon (parte do intestino) e toma sua própria urina todos os dias, já que, por conter informações sobre o que está acontecendo com o seu corpo, o líquido lhe informa se seu organismo está balanceado nutricionalmente. A mulher não cozinha absolutamente nada, come tudo cru, não se alimenta em restaurantes e diz que é possível viver muito bem só de suco de vegetais: “As pessoas iriam se sentir melhor se não comecem pão e laticínios”.
Essa é uma realidade parecida com a de Kate, mãe de três crianças que nunca experimentaram algo que fosse cozido ou industrializado. Quando questionada como os filhos reagem quando vão a casas de amigos e lhes é oferecido, por exemplo, um sanduíche de queijo a mãe responde: “Eu acho que eles nem sabem o que é isso”.
Essas duas histórias fazem parte do curta-metragem Health Food Junkies (Viciados em Alimentos Saudáveis). Lá é relatada a vida de quatro pessoas que comem apenas vegetais e necessariamente crus (cruvidorismo). Apesar de todas alegarem ser e se sentir extremamente saudáveis, manter um controle excessivo sobre a alimentação pode ser prejudicial.
Esse é um hábito entendido como um distúrbio alimentar (assim como a bulimia ou a anorexia) hoje em dia e tem até nome: ortorexia nervosa. O médico americano Steven Bratman foi quem criou o termo em 1998 e, três anos mais tarde, lançou o livro que inspirou o nome (e o tema) do filme citado acima.
Em praticamente todos os textos de alimentação nós chamamos a atenção para a importância desse hábito em nossas vidas. Já falamos sobre os malefícios do colesterol, sobre a realidade negativa do fast-food, sobre os perigos do açúcar, sobre o porquê de evitar frituras, sobre os benefícios de uma mastigação consciente, sobre como a fibra te auxilia, enfim, nosso objetivo é oferecer ferramentas para que as pessoas possam se sentir incentivadas a melhorar em qualidade a alimentação.
Mas, por favor, não pire.
Pessoas com ortorexia costumam analisar com detalhes absolutamente tudo o que compram; não comem nada que seja feito por outra pessoa por não saber se o modo de preparo saudável foi seguido (por isso não vão a restaurantes e lanchonetes); não comem algo que consideram “ruim” de forma alguma; pensam no conteúdo nutricional dos alimentos a todos os instantes; e muitas vezes se isolam do convívio social por conta da dificuldade de se adaptar às exigências da rotina cotidiana e ao julgamento alheio.
Suki diz sentir falta de tomar um café ou um drink e relata ter perdido a vida social. Também revela que não namora ninguém que come hambúrguer, toma cerveja ou coisas do tipo pois, para ela, essas pessoas cheiram mal.
A ortorexia ainda não é reconhecida como um diagnóstico no DSM-IV (Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais), onde estão catalogadas as doenças psíquicas, mas já foi alvo de diversos estudos científicos que corroboram a tese de Steven Bratman.
A grande preocupação com as pessoas que apresentam sinais do distúrbio alimentar é a deficiência nutricional. Por se livrar de alimentos considerados impuros, muitas vezes esses indivíduos excluem substâncias essências para a homeostase do organismo e se tornam anêmicas.
Mas o problema não é apenas fisiológico – com a questão do isolamento social os prejuízos podem englobar também o aspecto psicológico. O fato de ter que explicar a toda hora a sua opção por essa dieta e ter que analisar detalhadamente cada refeição faz com que os ortoréxicos acabem reduzindo a vida social, como já foi citado. Portanto, o que era para ser um hábito saudável se torna doentio.
A mensagem que fica é: cuidado com os ideais da alimentação saudável. Com o crescimento da indústria do fast-food, do uso de agrotóxicos, da preferência por alimentos transgênicos, da produção de comidas com corantes, conservantes, gorduras trans, sal e açúcar em excesso, os defensores das comidas orgânicas e de dietas como as vegetarianas, veganas ou crudívora apareceram em grande número.
Por ser um aspecto essencial para o nosso organismo se manter equilibrado, a alimentação merece toda nossa atenção. Mas isso não significa que devemos aderir ingenuamente à primeira dieta que nos parecer mais cool. Pesquise, se informe e, acima de tudo, opte pelo caminho do meio. Sempre o caminho do meio.