Em minha primeira viagem a Londres, briguei com minha namorada porque ela insistia em tomar um ônibus de dois andares para conhecer a cidade. Coisa mais brega. Que graça pode ter entrar em um monstro desses, com um monte de gente estranha de vários países e um sujeito falando do Palácio de Buckingham e da rainha no microfone?
Eu estava errado. City Tours são ótimos. Fazer turismo é ótimo.
Tem gente que acredita que ser “viajante” é melhor que ser “turista”. Os primeiros são, basicamente, descolados, cidadãos do mundo, cosmopolitas, bonitos, espertos e cheios de dicas que ninguém mais no universo conhece. Não viajam de pacote, falam 37 línguas, odeiam o McDonald’s e conhecem todos os lugarzinhos de todas as cidades (aquele insuportável lugarzinho que ninguém conhece. Quanto mais um mané como você). Os segundos são… pessoas fracas. Dependentes. Tristes. Sempre com uma câmera na mão e nenhuma ideia na cabeça.
De onde vem essa bobagem? De uns tempos para cá, o termo “turístico” ganhou uma conotação pejorativa. No mês passado, fiz um programa turístico. Visitei a Feira de San Telmo, em Buenos Aires. Feira de San Telmo (“Viiixe!”, dizem os “viajantes”) em Buenos Aires (“Credo!!!”). Se eu tivesse ouvido meus amigos modernos e superviajados, jamais poria os pés ali. E me arrependeria.
Porque é fantástico. É organizado, limpo, bonito e, sim, repleto de turistas. Turistas curiosos, de várias partes do mundo, gastando dinheiro, tirando foto, divertindo-se. Uma viagem legal para qualquer parte do planeta inclui, inevitavelmente, coisas que já se tornaram populares – o que não significa que sejam piores ou melhores.
É preciso ir, ao menos uma vez na vida, ao Cristo Redentor e posar para a clássica “foto-prato”. Ir a Paris e subir a Torre Eiffel. Assistir ao ensaio do Olodum no Pelourinho. Andar de bondinho em São Francisco. Mergulhar de snorkel em Porto de Galinhas. Andar de carruagem no Central Park. Tirar uma foto com um centurião cafajeste italiano em frente ao Coliseu. Rir de si mesmo depois.
Claro que existem armadilhas. Muitos daqueles locais com filas na porta podem não ser inesquecíveis. Uma experiência de viagem genuína deve incluir, sem dúvida, a independência do viajante e sua capacidade de improvisar e sair do óbvio. Mas isso não é sinônimo de uma jornada obrigatoriamente grandiosa. E aquele “turista” tirando retrato do Taj Mahal, durante o pôr do sol, pode ter uma experiência mais enriquecedora que a do “viajante” metido num trem no Vietnã, onde só há locais.
Sem contar que a foto, quase certamente, sairá mais bonita.
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