Embora muitos pensem que dirigir é uma necessidade para quem mora numa grande cidade sem transporte público de qualidade, eu encaro de outra forma: para mim, dirigir é uma arte. E, como toda arte, pode ser levada à perfeição.
Quem passa horas no carro por dia como eu, depois de tanto tempo sem ter o que fazer, começa a desenvolver maneiras de economizar o combustível, conservar melhor o veículo e acelerar o trajeto. Aqui vão algumas dicas que compilei nos últimos anos:
Trocar de faixa vale à pena?
A resposta é não. Conhece a lei de Murphy? Por incrível que pareça, ela funciona não só com filas de supermercado, como também no trânsito – e isso já foi comprovado por estudos. Naqueles dias em que está tudo parado, ficar pulando para lá e para cá não vale a pena. Afinal, todos os carros vão parar no farol.
Depois de muito tempo testando, cheguei à conclusão de que aquela costuradinha só é útil se:
- Você conhecer bem a dinâmica do caminho e souber exatamente quando o farol vai abrir ou fechar.
- Os carros da sua pista estiverem indo bem mais devagar do que o costume, por exemplo no caso de um tráfego intenso e inesperado na Rebouças às cinco da manhã.
- Você souber que uma pista sempre é mais lerda do que a outra (porque o acesso à transversal é mais complicado) ou que uma pista é sempre mais rápida que a outra (justamente porque muitas pessoas a deixam para o acesso rapidamente).
Você deve dirigir como o Emerson Fittipaldi?
Também não. O carro gasta combustível (sem mencionar as partes da maquinaria) conforme você pisa no acelerador e, principalmente, conforme você muda de uma velocidade para a outra. Por exemplo: na estrada, seu carro consome muito menos do que na cidade. Por quê? Porque está em movimento constante, sem precisar gastar energia em excesso para acelerar ou recuperar velocidade.
Desta mesma forma, na cidade não adianta ficar dando arrancadas, tirando finas e coisas do gênero, justamente porque, de acordo com a dica número 1, vamos todos parar no farol à frente. Quanto mais suave for a sua direção, melhor. Lógico que isso não significa sair dando uma de Barrichello e ficar lá no final…
Quando trocar a marcha?
Eu conheço muita gente que gosta de alongar excessivamente a marcha. Geralmente, estas pessoas preferem porque o carro ganha mais força – e, com isso, elas se sentem mais Fittipaldianas. Mas não é bem assim. Conforme expliquei, isto aumenta o consumo do carro – além disso, geralmente uma grande aceleração posteriormente leva a uma grande freada, que consome toda a aparelhagem de frenagem do carro (e, no mínimo, você vai trocar suas pastilhas de freio mais cedo do que deveria).
O carro tem uma zona de conforto, na qual ele tem uma potência aceitável que não gasta gasolina exageradamente. (Não estamos falando da máxima, que geralmente fica em torno de 3000-4000 rotações.) Se você perceber, ao redor de 2000-2500 rotações, já dá para trocar de marcha. Com isso, o carro nem perde potência, nem gasta demais. Menos do que isso, ele não aguenta e engasga. Muito mais do que isso, você queima combustível à toa.
O truque é a troca ser suave. Na maioria dos carros, a 10km/h já cabe uma segunda, 20-25km/h uma terceira, 35-40km/h uma quarta, e 50km/h uma quinta. E quanto maior a potência do carro, mais cedo você pode mudar a marcha. Quando eu tinha um Astra, por exemplo, dava para sair de quarta se eu quisesse. Todos ficam surpresos quando eu falo que dirijo praticamente só na quinta — mas, no final das contas, isso dá uma economia enorme no consumo de combustível.
Como frear no semáforo?
Isto eu ainda não consegui testar adequadamente. Em carros antigos, dizia-se que desengatar e ir freando (o que consome mais aparelho de frenagem) resultava na economia de combustível. Nos carros novos, as empresas afirmam que o simples fato de frear com ele engatado corta o abastecimento de combustível do motor.
De qualquer forma, a economia com certeza não é tanta quanto a das dicas anteriores. Por isso, vamos pela forma mais segura, que é a recomendada: em vez de enfiar o pé na embreagem e ir freando, seja de soquinho ou suavemente, vá reduzindo as marchas como manda o figurino.
Nas descidas, já é outra coisa. Descer desengatado realmente economiza mais – pois, assim, você atinge a velocidade desejada, enquanto engatado às vezes é necessário acelerar. De qualquer forma, nossa recomendação é a contrária: desça sempre engrenado. Mais importante do que a economia, cowboy, é a sua segurança e dos outros ao redor – uma coisa que não tem preço.
Considere a direção um jogo de xadrez
Eu gosto de pensar assim. Dirigir é como jogar xadrez: você deve considerar todos os movimentos possíveis ao seu redor. Pássaros, quando voam em bandos, usam as sete aves mais próximas de si para se orientar. Elas atuam em grupo para virar, subir, descer, fazer aquele turbilhão.
No trânsito, essa regra é também válida: considere os sete carros mais próximos de você, à sua frente, atrás, à direita, à esquerda… Com isso, você pode se planejar. Viu que lá na frente o pessoal começou a frear, prepare-se; percebeu que a 300 metros tem uma interdição na sua pista, aproveite para mudar; e assim vai. Planejando-se de antemão, você não só traz mais segurança para todos, como ainda economiza combustível e preserva o seu carro. Só tem vantagem.
Seguindo todas estas dicas, em uma semana normal na cidade, consigo chegar a uma economia de mais ou menos 3km/litro. O que significa 150 km a mais por tanque no meu carrinho. Ou mais ou menos 35 reais de economia por tanque. Multiplique isso pelas 52 semanas do ano e você terá uma economia de R$ 1820. Mais do que o suficiente para dar um ótimo presente para a sua namorada no Natal – ou, caso você seja solteiro, bancar uma semana de noitada no réveillon.